A variante Gama, inicialmente denominada P1 e que teve origem no Brasil, é mais agressiva. Essa é a conclusão do estudo desenvolvido em São José do Rio Preto, no interior paulista, por meio de sequenciamento genético e análises epidemiológicas. A mesma pesquisa mostra ainda que lockdown e vacinação são eficientes para conter a mutação do vírus da covid-19. 

O trabalho envolveu a Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), em parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade de São Paulo (USP), Fundação Bill&Melinda Gates, Universidade de Washington, University of Texas Medical Branch e Secretaria de Saúde de São José do Rio Preto.

Foto: Itamar Crispim/Fiocruz

“O colapso do sistema de saúde em São José do Rio Preto não aconteceu. Nós tivemos as UTIs cheias, mas em nenhum momento faltou leito, não teve lotação total e mesmo assim a mortalidade foi muito maior que anteriormente. Isso comprova que ela realmente é uma variante mais grave”, explica Maurício Lacerda Nogueira, professor da Famerp.

Ele aponta que já havia suspeita de uma maior agressividade da variante desde o colapso em Manaus. “Mas os autores de [estudos em] Manaus colocavam que também naquela época havia tido uma total falência do sistema de saúde. Não seria possível atribuir só à P1 uma maior gravidade”, relembra.

Foto: Itamar Crispim/Fiocruz

No município paulista, portanto, a maior transmissibilidade dessa cepa foi associada ao aumento de casos graves (127%) e mortes (162%) em março e abril de 2021. A vigilância genômica do novo coronavírus é feita no município desde outubro do ano passado. De acordo com os pesquisadores, foram analisados 272 genomas completos. Das 12 linhagens identificadas, a P1 representou 72,4%.

Lockdown e vacinação

São José do Rio Preto adotou lockdown de quase três semanas no pico da transmissão da variante Gama, em março, e o estudo também mostrou a eficácia da medida. A análise foi feita com o cruzamento de dados relativos à taxa de isolamento e dados epidemiológicos, como número de casos, variação genética e número de testes.

“Nós fomos capazes de calcular o R, a taxa de transmissão. E a taxa de transmissão é inversamente proporcional ao isolamento social, então quanto menos isolamento maior transmissão e vice-versa”, apontou. Segundo o professor, a taxa de transmissão ficou abaixo de 1. “O número de casos estabilizou, com tendência à queda, e isso permitiu que não ocorresse a falência do sistema de saúde, como ocorreu em outros municípios.”

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Também foi possível constatar a eficácia da vacinação. “Qual a população que já estava vacinada quando a P1 atingiu seu auge? Era quem tinha acima de 70 anos e essa população teve número de mortes e casos graves muito menor que a população que não foi vacinada, mostrando que a vacina realmente protegeu essas pessoas”, disse Nogueira.

Fonte: Agência do Brasil