A Agevap (Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul) e o Ceivap (Comitê para a Integração da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul) vão investir cerca de R$ 13,5 milhões em obras emergenciais por conta da estiagem na região do rio Paraíba do Sul.
Ao todo, 13 cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo serão beneficiadas com o investimento feito pelos órgãos que fazem a gestão hídrica do Paraíba do Sul. São João da Barra e São Fidélis figuram na lista de cidades que serão beneficiadas.
De acordo com André Marques, diretor presidente da Agevap, as cidades do Rio receberão no total R$ 8,570 milhões e as de São Paulo, de R$ 4,850 milhões. O plano foi apresentado nesta quinta-feira (19) na sede da Agevap, em Resende, região do Médio Paraíba.
O objetivo dos órgãos é fazer as licitações para as obras e compras de equipamentos e estar com as novas captações operando em junho, três meses depois de iniciado o período seco.
As obras vão melhorar a captação de água nas cidades em que há problemas por conta da redução da vazão do rio, determinada pela ANA (Agência Nacional de Águas) para preservar os quatro reservatórios do Paraíba do Sul, atualmente nos níveis mais baixos da história.
Somados, os quatro reservatórios estão com nível de 6,32%. O maior reservatório do sistema, Paraibuna, com 60% da capacidade total de reserva de água do sistema e considerado a caixa d’água do Paraíba do Sul, está com apenas 2% de seu volume útil cheio.
“O ideal é que cheguemos em abril com os quatro reservatórios, somados, em 15%, o que já é muito baixo, já que no ano passado esse nível estava em torno de 30%, 40%. Para conseguirmos segurar alguma água nesses reservatórios, teremos que reduzir ainda mais a vazão do rio, mas isso tem impacto na captação de águas de cidades menores”, afirmou Marques.
Tanto a Agevap quanto o Ceivap recebem dinheiro pelo uso da água do Paraíba do Sul, um rio federal que corta os Estados do Rio, São Paulo e Minas Gerais. A União e os Estados cobram pela captação de água pelos municípios e indústrias e repassam para os órgãos.
A captação de água da maior parte dos municípios foi projetada para uma vazão específica. São tubulações instaladas em determinado nível do rio. Como a seca é a pior dos últimos 50 anos, em muitas cidades o nível do rio está mais baixo de onde fica a captação.
O motivo das obras é que a ANA está para determinar a redução da vazão do rio Paraíba do Sul pelo quarta vez nos últimos seis meses. Atualmente, a vazão que chega na barragem de Santa Cecília, onde a água é transposta para o rio Guandu, que abastece a capital e região metropolitana do Rio, é de 140 metros por segundo, equivalente a 140 litros por segundo.
Em setembro, essa vazão era de 190 metros cúbicos por segundo. A ANA já sinalizou que haverá mais uma redução, agora para 110 metros cúbicos por segundo, até junho. O objetivo é preservar os reservatórios para o período seco, que começa em abril.
Serão compradas 12 balsas com bombas elétricas que serão colocadas sobre as águas do rio. Uma tubulação mandará a água para a margem onde estiver instalada a captação original. A vantagem da balsa é que o rio pode baixar de nível que a captação não será afetada.
Além dos equipamentos, será construído ainda um poço artesiano em São João da Barra, no Norte Fluminense, e duas pequenas barragens nas cidades paulistas de Tremembé e Natividade da Serra.
Receberão balsas as cidades fluminenses de Barra do Piraí, Sapucaia, São Fidélis, Vassouras, São João da Barra, Barra Mansa e Três Rios. As cidades paulistas contempladas serão Taubaté, Tremembé, Caçapava, Redenção da Serra, Jacareí e Natividade da Serra.
VOLUME MORTO
O sistema que abastece o Rio é diferente de São Paulo. Os quatro reservatórios existentes no Paraíba do Sul –Paraibuna, Jaguari, Santa Branca e Funil– têm dupla função, abastecimento e geração de energia elétrica.
Paraibuna fica na cabeceira do rio, na cidade de mesmo nome no Vale do Paraíba paulista. Ele é o maior e mais importante dos quatro e seu nível interfere no dos restantes.
Em final de janeiro, Paraibuna atingiu o volume morto, o que significa que o nível de água não é mais suficiente para gerar energia, mas que ainda tem para abastecimento. Com as chuvas de fevereiro, o nível voltou a ficar acima do volume morto, mas ainda muito abaixo do ideal.
A gestão desses reservatórios, que são propriedade de usinas hidrelétricas, é feita pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), pela ANA (Agência Nacional de Águas) e pelos chamados comitês de bacia, que têm representantes dos municípios, Estados, União e sociedade civil.
Na reserva do Cantareira, em São Paulo, por exemplo, o volume morto constitui a parte da reserva que só pode ser acessada por meio de bombeamento. Parte do volume morto do Paraibuna ainda pode ser usada só com a força da gravidade, sem necessidade de bombas.
Quando o reservatório de hidrelétrica chega ao volume morto, o ONS registra em seu boletim diário 0%. A medição da chamada reserva técnica passa a ser feita pela ANA que utiliza percentuais negativos para o restante do volume. O segundo reservatório do sistema do Paraíba do Sul, Santa Branca, por exemplo, está com nível de menos 1%, o que significa dizer que o volume morto está 99% cheio.
Segundo Marques, se Paraibuna chegar a menos 26%, ou 74% do volume morto cheio, haverá a necessidade de bombear a água. Paraibuna saiu do volume morto há cerca de duas semanas por conta das chuvas de fevereiro, mas seu nível chegou a ficar em -3%. Atualmente, o reservatório está em 2%, acima, portanto, do volume morto.
O volume morto do Paraibuna tem capacidade para armazenar 2,09 trilhões de litros de água. O Estado do Rio calcula que tenha direito a cerca de 400 bilhões de litros, um pouco mais que o do Canteira e suficiente para abastecer o Estado por seis meses.
“Para termos uma segurança hídrica relativa, teríamos que chegar no período chuvoso em 30% a 40% do nível dos quatro reservatórios somados, o que não deve ocorrer. Acredito que somente daqui a dois anos vamos conseguir atingir essa marca novamente”, disse.
Fonte: Folha de São Paulo