O jornal sanjoanense “Primeiro de Março” de 01/04/1875, trouxe curiosa notícia que resolvemos transcrever.
” Um facto Histórico de Grande Vulto – Hontem, abrindo-se um poço na barra, perto da casa da Câmara Municipal, encontrou-se, segundo nos informou pessoa fidedigna, um caixão de chumbo e vestígios de estar dentro d’outro de madeira, do qual existiam pequenos fragmentos.
O caixão de chumbo tem de comprimento 1,76cm e de largura 1 metro , é soldado e de forma abaulada.
Levadas algumas pessoas pela curiosidade dessoldaram parte da tampa, a dar lugar a examinarem o que conteria dentro.
Suspendida a parte dessoldada reconheceram existir dentro uma múmia ou o corpo de um indivíduo de altura regular, perfeitamente conservados os vestidos.O cadáver estava vestido de calça de cachemira branca com galão de ouro, largo, e farda de Almirante, tendo ao lado espada com os copos cravejado de pedras finíssimas e riquíssimo chapéu armado.
A múmia ou féretro foi conduzido para a igreja, onde tem sido extraordinária a concorrência dos curiosos para ver o fenômeno, que dá uma boa ideia de que a nossa barra já foi, em épocas longínquas, visitada por pessoas ilustres.
A múmia se achará exposta à curiosidade dos visitantes por estes três dias, findos os quais será soldado de novo o caixão de chumbo e metido em outro de madeira, afim de melhor ser remetida à múmia para o museu.
Suscitou-se a questão entre alguns presentes quem seria o personagem. Houveram opiniões vagas a respeito, prevalecendo a de um dos circunstantes que corroborou com o seguinte trecho, que leu numa obra de Southey: ‘No ano de 1650 mais ou menos, no tempo do domínio dos Holandeses na capitania de Pernambuco, saiu do porto de Amsterdam uma frota de 30 velas , ao mando do almirante Conde Astolpho de Esse, com destino a Pernambuco.
Passada a equinócial, a dois graus de latitude sul, sobreveio uma terrível tempestade de E. N. e N. O. muito costumeiras nestas paragens, que fez a Nau Chefe separar-se dos outros navios. Depois de ter a Nau Chefe lutado mais de 20 dias com mar e vento abrigou-se em um surgidouro pouco ao sul da Enseada dos Pargos.
Indo à terra o Conde Astolpho reconheceu ser o rio bastante largo, a barra estreita e baixa. Colocando-se no pontal do sul extaziou-se com a bela vista, e dissera aos de sua comitiva: que a não ter deveres a cumprir jamais abandonaria tal lugar e o disputaria a Gil de Góis ou aos seus herdeiros.
Voltando o almirante para bordo foi acometido de um ataque, estando nos paroxismo pediu que, no caso de morrer, dispensava as honras devidas, e queria ser enterrado com as suas ensignias nas belas areias que tinha pisado no majestoso Brasil.
Este pedido foi satisfeito, por isso não há dúvida ser a múmia o Almirante Conde Astolpho de Esse.” É o que nos contou o nosso informante e assim o noticiamos, por nos merecer consideração e também a grande descoberta que muita atenção deverá merecer e utilizar a história ainda mais.
Por Fernando Antônio Lobato Borges