Com um volume de investimentos superior a R$ 10 bilhões desde sua concepção, o Porto do Açu começa agora a entrar com peso na indústria brasileira de óleo e gás. Após obter licença ambiental no início de maio, a Prumo irá inaugurar na próxima terça-feira, 7, os terminais de Petróleo, Multicargas e Combustíveis Marítimos, com foco na ampliação de seu escopo para atender as demandas que tendem a crescer pelos próximos anos.
O objetivo é montar, com as unidades do porto, uma plataforma que abranja diversos tipos de negócios com operadoras que atuam na Bacia de Campos e que demandam serviços como transporte e apoio logístico na região. De acordo com o diretor de Regulação e Sustentabilidade da Prumo, Eduardo Xavier, além da busca por novos parceiros, a empresa vem traçando uma maior inserção em outros mercados de energia, e com esse foco avança hoje no planejamento de um terminal de gás natural liquefeito (GNL) para o porto.
A unidade, que deverá ser operada pela Açu Gás Natural, terá capacidade para regaseificar até 1,5 milhão de m³ de gás por dia, e poderá ser conectada posteriormente a uma térmica a ser construída na região. Para isso, a empresa já obteve licença ambiental para gerar 3,3 GW de energia no local. “Estamos focados agora em petróleo e derivados, mas queremos dar um segundo passo para gás e também energia elétrica. Então deixamos de ter só um porto e começamos a ter um complexo industrial”, afirma o executivo.
Em que fase está hoje o Porto do Açu?
Nós estamos bastante empolgados neste primeiro semestre, porque temos a expectativa de que os nossos projetos mais significativos, em que trabalhamos ao longo dos últimos anos, entrem em operação. Entre eles está o terminal de petróleo, que inicialmente vai ser movimentado pela Shell/BG. A Oil Tanking é nossa sócia, com 20% nesse empreendimento. Ela é uma empresa alemã, que opera no mundo todo e vai ser nossa parceira na operação desse terminal.
Como funcionam essas sociedades? Elas são formadas para cada projeto dentro do porto?
A ideia é ter, com o complexo portuário do Açu, uma plataforma de desenvolvimento de diferentes negócios. Hoje já temos uma série de projetos encapsulados em empresas específicas. A primeira operação que tivemos, por exemplo, foi de minério de ferro. Esse terminal é detido em parceria nossa de 50% com a Anglo American, que é dona do minério. Ela é nossa sócia na movimentação disso.
Sendo ela sócia em um serviço prestado pela Prumo, como é feita a cobrança?
Existe um contrato com valor fechado. A Anglo American paga, mas captura metade do resultado da empresa. Ela tem o controle da operação e, como o minério é dela, fica muito mais confortável. Nós temos a Oil Tanking como sócia na Açu Petróleo, que é um terminal de movimentação de petróleo. A primeira fase do projeto é o transbordo entre navios ancorados. Tem o navio aliviador, que sai da plataforma e encontra o navio exportador, já ancorado no terminal. Ele então joga o petróleo para o exportador, que leva para o mercado externo. Isso é prestação de serviço. Nosso primeiro cliente é a BG, mas outros vão surgir, certamente, porque o Porto do Açu é a menor distância que temos dos campos produtivos da Bacia de Campos.
A Prumo tem negociado com outras operadoras da região?
Certamente, estamos conversando com todos que estão na Bacia de Campos. Mostramos as vantagens de fazerem operações, inclusive pelo ponto de vista de segurança, porque é muito melhor do que operar em águas desabrigadas ou no Uruguai, que é muito mais distante. Isso envolve também segurança ambiental, porque é menor o índice de derramamento de óleo. Além disso, por ter uma menor distância, conseguimos agregar nesse produto grandes vantagens que não encontram paralelo na costa brasileira. Há também a previsibilidade, que é fundamental para empresas de petróleo. Nesse terminal abrigado, a companhia consegue fazer a operação quando quiser, ao passo que, fazendo em águas distantes, ela depende de condições de maré e outros fatores.
Como funciona essa estrutura no porto? Foi feita uma barreira?
É uma estrutura construída com caixões, que são blocos de concreto. Do lado externo, funciona como quebra-mar, e do lado interno é operacional. Foi a FCC que fez de um lado, e a Acciona de outro. Eles inclusive competiam pra ver quem instalava mais caixões em menor tempo, e um quebrava o recorde de produtividade do outro. A vantagem dessa tecnologia é que, com a mesma construção, é possível fazer a parte de quebra-mar e a parte operacional. Tradicionalmente, deveria ser lançado um montante de rochas, chamado de enrocamento, e elas quebrariam a entrada do mar, o que propiciaria uma estabilidade suficiente para fazer a construção. Com o nosso, superamos isso. Fazemos com o mesmo movimento e temos, portanto, muito mais velocidade, usando também menos materiais. Além disso, o caixão é alimentado com areia da própria dragagem que precisa ser feita no leito do oceano.
O senhor mencionou que, neste semestre, mais de um terminal deve ser inaugurado. Quais são os outros?
Os que vão ser inaugurados agora são nossos, com 100% de participação, ou de terceiros. É o caso do T-Oil, que é o terminal de petróleo, e a unidade da BP com a Prumo, que fica na entrada do canal e é um posto para abastecimento de embarcações. A BP Marine é nossa sócia e vai vender o óleo dela para todo mundo. Inclusive, queremos entrar em operação antes das Olimpíadas, porque haverá uma restrição de navegação na região, o que deixa conosco o abastecimento mais próximo da área. E a outra unidade é o T-Multi, que é um terminal multi-cargas 100% nosso. Ele movimenta granéis, já fizemos testes de comissionamento com 3 navios de bauxita da Votorantim. Esses três terminais são os que temos trabalhado nos últimos dois anos. Junto com eles, tem a Edson Chouest, que também vai inaugurar neste semestre. É um empreendimento 100% de terceiros.
Nesse caso, eles compram ou arrendam o espaço?
Eles alugam a área, e nós fazemos toda a parceria, instrução, ajudamos no licenciamento, mas isso porque prestamos serviços nesse sentido. E eles vão prestar serviço para a Petrobrás, que tem blocos na Bacia de Campos. A Edson Chouest vai atuar porque está na melhor distância das áreas a serem atendidas.
A área do porto é de 90 mil km². Quando isso estiver em atividade e crescer, haverá um crescimento demográfico. Como está sendo feito esse planejamento? Há parceria com o governo local para que não haja um crescimento desordenado, como aconteceu em Macaé?
Se virmos hoje os principais portos do Brasil, eles são encapsulados pelas cidades e às vezes estão até em conflito com elas. A cidade de Santos chegou a passar uma lei municipal proibindo a movimentação de granel vegetal na Ponta da Praia. Colocaram uma restrição da atividade portuária como um todo, mas proibiram nessa área, que fica bem na entrada do canal. Ali, há a zona cerealista, que movimenta uns 30%, 40% da produção nacional todo ano, com milho, soja, açúcar.
E como isso vem sendo planejado para o caso da Prumo?
Para evitar isso, desde o início do projeto nós conversamos com o governo do estado e com as prefeituras em volta, em termos de desenvolvimento não só das cidades, mas da região. Falamos também com o governo federal, mas atuamos principalmente com as cidades de Santos e São João da Barra, assim como o governo estadual, porque ele tem essa visão de desenvolvimento regional. Quanto ao zoneamento urbano, nós conversamos não só com o prefeito, mas com as autoridades da Câmara, e apresentamos um plano. Tanto é que, se for analisar, o porto está compreendido no plano de zoneamento do município. Ele dedica aquelas áreas à criação de uma zona industrial do porto do Açu. Então todo o crescimento futuro é baseado no uso do solo. Nessa região, conseguimos ver que o melhor aproveitamento são lotes grandes voltados para a atividade industrial ou de prestação de serviço. Mostrando como vamos atrair novos players ao porto, não vendemos só o porto, mas toda a região.
Muita gente virá de fora para morar na região do porto. Onde serão alocadas?
Essa é uma preocupação que temos. Não queremos que a cidade fique a reboque do porto nem vice-versa. É preciso integrar, porque as pessoas têm que enxergar o porto como seu vizinho, que vai prover serviços pra sua família. Temos uma rede de empregabilidade, com cadastro de currículos. O prefeito faz um programa de incentivo colocando uma taxa de empregabilidade de mão de obra local. No nosso terminal multi-cargas, por exemplo, 100% dos operadores de carnes são locais, pessoas que nunca tinham visto navio dessa dimensão. Nós treinamos mais de 100 pessoas e agora estamos contratando. E os que já foram contratados vão também para outros empreendimentos. Teremos posições preenchidas também por pessoas de fora, mas queremos essa integração.
Além dos negócios já existentes, quais são os principais projetos que buscam agora?
A visão que temos da nossa plataforma é que ela possui uma característica muito forte no setor de energia; seja petróleo, gás associado, importado, GNL ou energia elétrica. Com energia barata, espaço e mão de obra sendo oferecida, consigo atrair empresas muito interessantes para o desenvolvimento da cidade. Então deixamos de ter só um porto e começamos a ter um complexo industrial. Ele é a ponta de lança de um complexo industrial. Precisamos oferecer condições para que esses clientes venham.
Então avaliam hoje um terminal de GNL?
Isso, estamos estudando toda essa parte de energia. Estamos focados agora em petróleo e derivados, mas queremos dar um segundo passo para gás e também energia elétrica.
O terminal de GNL é uma possibilidade já avançada?
Sim, já temos licença ambiental. Criamos uma empresa chamada Açu Gás Natural justamente pra isso, e o primeiro passo dela é tratar o GNL. Então com um terminal GNL para fazer a recepção, estando a 40km do Gascar – Gasoduto Campinas-Rio, poderíamos fazer uma conexão para jogar essa molécula dentro do grid, ou tratar ela para a geração de energia no nosso empreendimento. Já temos licença para gerar 3,3 GW.
E qual seria a capacidade desse terminal?
Aproximadamente 1,5 milhão de m³ por dia.
Há uma projeção de prazo para montar isso?
Hoje o cenário de construção para energia está atrelado ao desenvolvimento do PIB. O último leilão realizado pelo governo, no início do ano, contratou 5 MW, e nós temos 3,3 GW. Então esperamos que a economia do país volte a crescer, aumente a demanda e tenhamos leilões que possam atrair projetos novos.
Essas térmicas funcionariam com o GNL?
Sim, como as térmicas funcionam hoje. Existem muitas térmicas no Nordeste desse tipo, assim como no Sul.
Fonte: Petronotícias