Opinião – Padre Marcos Paulo Pinalli da Costa, Pároco em São João da Barra, Diocese de Campos – RJ.
Tenho minha opinião clara acerca do Santo Padre, o Papa Francisco! Como sacerdote católico renovo minha fidelidade à Igreja e a ele! Seu agir está pautado não no punho, mas no diálogo. Muitos gostariam que, Francisco, repetisse a postura dos seus antecessores, condenando aberta e diretamente os sistemas de governo comunista e o socialista. Com certeza, permanece em pé o ensinamento da Igreja que o comunismo é perverso e como bem sabemos martirizou a muitos fiéis, como bem expôs Pio XII, na Carta Encíclica “Divina Redemptoris”, citando países como a Rússia e México, como segue: 19. Entretanto, aí estão à vista os deploráveis frutos dessa propaganda fanática. Porque, onde quer que os comunistas conseguiram radicar-se e dominar, – e aqui pensamos com particular afeto paterno nos povos da Rússia e do México, – aí, como eles próprios abertamente o proclamam, por todos os meios se esforçaram por destruir radicalmente os fundamentos da religião e da civilização cristãs, e extinguir completamente a sua memória no coração dos homens, especialmente da juventude. Bispos e sacerdotes foram desterrados, condenados a trabalhos forçados, fuzilados, ou trucidados de modo desumano; simples leigos, tornados suspeitos por terem defendido a religião, foram vexados, tratados como inimigos, e arrastados aos tribunais e às prisões.”, também a Espanha foi mencionada.
Esta foi, no meu parecer, uma primeira fase da Igreja, que durou quase um século. No ano da paz, proclamado pelo Pontífice, temos a segunda fase, a das visitas e do diálogo. O diálogo perfeito consiste em falar e ouvir, em dar as mãos e se respeitar, em rejeitar todo e qualquer tipo de intolerância, sem no entanto abrir mão da verdade. Não se trata de um mudar de opinião ou doutrina quando se conversa com o que pensa diferente da Igreja. Vivemos noutro período histórico. O modo de falar e agir também evoluiu. O Papa Francisco, não condenou e muito menos aboliu o que já foi dito por seus antecessores acerca dos sistemas de governo comunista ou capitalista. Que então falar da visita de Bento XVI à Cuba? O Papa Francisco e nós, Igreja, estamos colhendo dos frutos da árvore plantada por Bento XVI em Cuba, por exemplo.
A visita do Papa ao Equador, Bolívia e Paraguai nesta primeira quinzena de julho parece ter suscitado por parte de alguns que, o Papa teria vindo para fortalecer a Teologia da Libertação (“La Teología de la Liberación”) na América Latina. Muito menos, ousem pensar que o Papa é comunista. Não! Não! Nada disso!
O Papa Francisco no seu discurso na catedral da capital boliviana, pensando na relação entre aquele país e o Chile defendeu um “diálogo franco e aberto” para “evitar conflitos com os países irmãos”. Então, permaneceu em silêncio por alguns instantes para afirmar: “Estou pensando no mar. Diálogo, diálogo é necessário”. Outros discursos tiveram forte cunho social, até porque o Pontífice conhece nossa realidade. Não esqueçamos que é um latino-americano como nós. Ainda que o Papa tenha se referido ao sistema capitalista como “ditadura sutil”, lembrando sempre dos humildes, pobres, trabalhadores e excluídos, não significa que seja comunista. O Papa não ofereceu o comunismo como alternativa ao capitalismo.
Parece que muitos críticos do Papa Francisco ainda não perceberam que no seu Pontificado, as mudanças propostas e queridas por ele são, sobretudo internas, ou seja, dentro da própria Igreja. O Pontificado de Francisco deverá ser assinalado pela reforma ou tentativa de reforma na própria Cúria Romana.
Quanto à visita do Papa a alguns países da América Latina, deixa-nos claro que cumpre com o seu papel de Bom Pastor em busca da ovelha perdida e a ferida no espinheiro. O Bom Pastor enfrenta um lobo ou a matilha, se preciso for, para proteger seu rebanho que sente-se seguro ao ouvir sua voz. Não escrevo como alguém sem malícia, ingênuo na opinião, ou ignorante. Quero pensar enquanto Igreja que dialoga para evangelizar. Depois da visita, sobretudo à Bolívia e Cuba, tenhamos a forte esperança que um dia, por nossas preces, o Santo Padre visitará a Rússia ou a China. Aliás, em janeiro de 2014, Dom Paolo Pezzi, Arcebispo de Moscou, declarou em entrevista à Agência Efe que o Papa Francisco só viajará à Rússia com a aprovação da Igreja Ortodoxa.