Juliano Soares Rangel
Advogado
Mestre em Políticas Sociais/ UENF
Professor universitário e pós-universitário
A renúncia da, agora, “ex-prefeita” Carla Machado ao cargo do Executivo Municipal sanjoanense tomou todos os seus eleitores e população de espanto, gerando questionamentos no que concerne ao cenário que se redesenha.
Inicialmente, importa lembrar que a ex-prefeita, ainda que com milhões em caixa, vinha enfrentando períodos de instabilidade e de profundo desgaste político em São João da Barra, quer seja pela ausência de investimento em políticas públicas, quer seja pela recente perda política de apoio junto à Câmara de Vereadores, tendo perdido a sua base de apoio com a eleição da Mesa Diretora para o biênio 2023/2024.
A perda da eleição da Mesa Diretora na Câmara de Vereadores revelou não apenas a dificuldade que passaria a enfrentar com a necessidade da aprovação de contas e projetos, mas revelou também a perda de grandes apoios políticos nas mais distintas localidades do município: com a perda do apoio dos vereadores Elísio; parcela de seu poderio ficou fragmentado na localidade de Barcelos; do Allan, se revelou a perda do apoio político em Grussaí; do Analiel, se revelou a perda do apoio político no quinto distrito, já fragmentado pela força política do vereador Franks Arêas e, no Centro do município, a recente exoneração do ex-vereador Alex Firme pode revelar a fragmentação da força política da ex-prefeita na denominada “pedra”, já representada pela força política do vereador oposicionista Kaká. Podemos observar assim, que a ex-prefeita acabou por desenhar, por questões alheias, um campo minado onde sempre conseguiu exercer o controle e dominação.
A sua renúncia ao cargo de prefeita acaba por revelar não apenas suas intenções para este pleito eleitoral, já indicadas quando a mesma revelou ter interesse em concorrer ao Executivo estadual, mas também, revela a sua impossibilidade de se candidatar ao mesmo cargo em 2024.
Se não existem dúvidas quanto ao fato de que a Prefeita não poderia se reeleger para o próximo pleito municipal, uma vez que exercia o segundo mandato, o fato é que a sua renúncia gerou inquietações quanto à possibilidade dela ter a possibilidade ou não de concorrer, novamente, ao cargo nas eleições de 2024.
O fato é que Machado não poderá se candidatar ao cargo de prefeita em 2024, uma vez que a Constituição Federal, em seu art. 14, § 5º estabelece que os prefeitos poderão ser reeleitos para um único período subsequente. Nesse instante, vale lembrar que ela já havia sido eleita para o último quadriênio. A renúncia ao cargo, por sua vez, manterá a ex-prefeita Machado impossibilitada de concorrer por uma terceira vez ao cargo de prefeita.
Mas, qual o resultado de sua renúncia para a gestão do município de São João da Barra?
A renúncia da ex-prefeita acaba por deixar a atual sucessora e vice-prefeita Caputi em lençóis bem desconfortáveis, quer seja pelas atuais e futuras cobranças por parte da população que assiste uma cidade em profunda crise de gestão, seja em razão das dificuldades de negociação que enfrentará com uma Câmara de Vereadores, agora, opositora. Para solucionar este problema, a atual prefeita terá dois caminhos a tomar: ou sentar-se à negociação com os vereadores de oposição, o que poderá resultar em novas nomeações e exonerações no quadro administrativo, ou declinar politicamente, o que, inevitavelmente, poderá leva-la a um processo de cassação, com a tomada de poder pelo, então, Presidente da Câmara. Como se percebe, a situação deixada para Caputi não se revela, em nada, confortável.
Quanto ao quadro político para este ano, a insurgência de Machado no pleito estadual pode reavivar, no âmbito sanjoanense, a luta que sempre foi travada e polarizada entre ela e o atual deputado estadual Bruno Dauaire, que além de concorrer ao cargo de deputado, poderá em 2024 candidatar-se, sem nenhum impedimento, ao cargo de prefeito. E, todos sabemos que, a opacidade de Carla Machado nas eleições de 2024 pode se revelar como fator de grande avanço da liderança Dauaire.
No âmbito interno do município, a ex-prefeita renuncia ao cargo deixando inúmeros de seus eleitores em situação de abandono político, revelando desprezo pelo apoio recebido, quando não negociou com seus eleitores e correligionários os novos rumos tomados e, deixa a cidade em estado de lástima ante a ausência de investimentos em políticas públicas.
Em âmbito estadual, a filiação da ex-prefeita ao PT (Partido dos Trabalhadores) toma de surpresa e espanto os petistas que assistiram atônitos a postura negacionista da prefeita quanto à vacinação da COVID-19, quando se negou a ser vacinada e recomendou que as crianças fossem “preservadas” da vacinação. A sua filiação do PT, por fim, pode revelar um enfraquecimento do próprio partido quando este manteve forte discurso em favor da vacinação e das políticas epidemiológicas e de vigilância sanitárias.
O que se sabe é que, novos cenários se redesenham. Como a política não é escrita de certezas, nos restam as análises mais evidenciadas do “só por hoje”.