Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) recebeu uma análise realizada pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) que aponta para o encontro de duas cianobactérias na água. A primeira é uma geosmina, que confere gosto e odor de mofo e terra à água. O estudo aponta ainda que o composto pode conferir estas características a água potável. A segunda substância é a que mais chama atenção. Segundo o laboratório, ela desperta cuidados, pois pode produzir potencialmente uma toxina chamada de saxitoxina.
O documento expressa preocupação com os efeitos regulatórios e toxicológicos dessa toxina em animais e humanos.
“Acredito que devemos aproveitar crises como esta para melhorar o acesso à informação sobre a qualidade da água fornecida nesta cidade. Em conversa com o representante da empresa (Águas do Paraíba), destaquei a importância de criar um portal de transparência com os parâmetros importantes de qualidade da água. Não é suficiente apenas divulgar os parâmetros físico-químicos; além desses, é crucial incluir outros valores, especialmente aqueles referentes a substâncias que oferecem risco à saúde humana. Podemos e devemos fazer isso. É fundamental que aprendamos com essas crises para promover melhorias que beneficiem a todos”, declarou Carlos Eduardo de Rezende, professor titular da Uenf, do Laboratório de Ciências Ambientais da universidade.
Confira a análise na íntegra:
1) há realmente um crescimento elevado da comunidade fitoplanctônica devido a baixa vazão e poucas partículas inorgânicas em suspensão. Estas condições oferecem o meio necessário para crescimento destes organismos microscópicos;
2) ainda não determinamos o quantitativo destes organismos por unidade de volume, o que é um passo relevante;
3) observamos a ocorrência de duas espécies que chamam atenção são elas, Dolichospermum circinale e Raphidiopsis sp. A primeira tem sido descrita na literatura científica como produtora de geosmina e 2-metilisoborneol. A geosmina confere gosto e odor de mofo e terra à água. Este composto pode conferir estas características a água potável, uma vez que, o tratamento convencional não é suficiente para removê-los.
A segunda espécie, Raphidiopsis SP, é que chama mais atenção e desperta cuidados, pois pode produzir potencialmente uma toxina chamada de saxitoxina… não significa que esteja produzindo e que, portanto, tenhamos níveis que possam estar acima do previsto pela legislação. Portanto, urge que estes valores existam dentro do monitoramento da empresa Águas do Paraíba ou então, que sejam realizadas estas determinações.
O laudo aponta ainda que “Uma pergunta que pode surgir sobre o tema é se existe forma de reduzir este tipo de odor e gosto, e, a resposta é sim, processo por nanofiltração sugere que há uma remoção quase que total enquanto aeração e dessorção são ineficientes”
No documento, o laboratório da Uenf aponta “preocupações com efeitos regulatórios e toxicológicos potentes em animais e humanos” e propõe que as amostras para sejam encaminhas à UFRJ para análise de especialista.