O médico do trabalho Luiz Roberto Tenório explica que a exposição, ainda que pequena, causa problemas de saúde, por ser diária e prolongada. “Quando se manda encher o tanque [além do travamento], esse pouquinho [a mais] que passa faz com que o benzeno contamine os frentistas. E essa contaminação por benzeno é muito perigosa porque pode causar câncer de pulmão e é responsável por uma doença muito grave que é a leucemia.”
Tenório destaca que a contaminação crônica por benzeno pode levar a complicações no fígado e nos rins e causar insuficiência renal e depressão. Para os motoristas, não há riscos, já que a exposição não é prolongada.
A prática de abastecer além do travamento automático da bomba já é proibida por lei no estado do Rio. Em vigor desde 21 de janeiro deste ano, a Lei 6.964/2014 prevê multa de 5 mil unidades fiscais de referência (Ufirs) – R$ 13.559 mil – para os postos de gasolina que descumprirem a legislação. O valor pode chegar a R$ 27.119 mil, caso haja reincidência.
Ex-ministro do Meio Ambiente e ex-secretário estadual do Ambiente, Minc participou de uma medição de níveis de exposição de benzeno em um posto de gasolina da zona sul da cidade. Ele disse que os motoristas que optarem por usar gasolina precisam ter esses riscos em mente: “as pessoas têm que ter consciência do quanto estão expondo milhares de pessoas a essas doenças.”
“Os cidadãos devem priorizar o transporte público e a bicicleta e, caso andem de carro, [usem] álcool em vez de gasolina. A medição constatou que os níveis de benzeno expelidos chegaram a ser três vezes maiores quando o tanque foi abastecido até a boca”, informou o parlamentar.
Para o vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência do Município do Rio de Janeiro, João Batista de Moura, é preciso que mais motoristas conheçam a nova legislação e a respeitem.
Ele disse que, além de prejudicar a saúde dos frentistas, encher o tanque até a boca danifica a peça que faz o tanque “respirar”. “Tem um motivo ambiental e um motivo mecânico. Completar o tanque é uma coisa, encher até a boca é outra coisa”, argumentou.
Gerente do posto de gasolina em que foi feita a medição, Mônica de Souza, de 46 anos, trabalha em postos de gasolina há 14 anos, conta que os motoristas pedem com frequência para encher o tanque ao limite. “Insistem, brigam, mas a gente explica que pode prejudicar o carro dele e que não é certo, e eles entendem.”
Fonte: Agência Brasil