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Foto: Antonio Cruz / Abr

O ‘tsunami’ de 62 milhões de metros cúbicos de lama com rejeitos de minério chega hoje ao mar de Colatina, no Espírito Santo, a 400 km de distância do local do acidente. A tragédia, que já deixou 11 mortos e 12 desaparecidos, além de prejuízos à flora e fauna, ao longo do Rio Doce, acende um sinal de alerta: ecologistas e especialistas em meio ambiente do Estado do Rio cobram a realização de uma operação pente fino imediatamente para se saber a real situação de segurança das estruturas de parte das 317 barragens mineiras que estocam restos de mineração, e que podem atingir até mesmo mananciais fluminenses, caso ocorram novos acidentes.

“A fiscalização é frouxa. O sistema hidrográfico fluminense está sob ameaça. É preciso mais ações governamentais para exigir maior transparência”, afirma o engenheiro Adacto Ottoni, coordenador do curso de Especialização em Engenharia Sanitária e Ambiental da Uerj. Ele lembra, por exemplo, que no relatório da própria Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM) de 2014, o mais recente, consta que 29 barragens com rejeitos químicos não têm garantia alguma de estabilidade, e que, em 13, sequer auditorias foram finalizadas por falta de documentos.

O ecologista Sérgio Ricardo, ex-membro do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Conema-RJ), comenta que há estimativas de que aproximadamente dois terços das barragens com produtos descartados por mineradoras podem ter ligação direta com mananciais do Estado do Rio em caso de acidentes como o de Mariana.

“Faltam informações mais claras dos órgãos competentes. Nenhum deles tem detalhes do mapa de risco dessas verdadeiras bombas-relógio”, critica Sérgio. Ele lembra ainda o vazamento, em 2007, da barragem de rejeitos resultantes da lavagem de bauxita. A barragem era da Mineração Rio Pomba Cataguazes, na Zona da Mata mineira, com despejo de dois bilhões de litros nos rios Muriaé e Paraíba do Sul, provocando desabastecimento em municípios fluminenses.

Maria Dalce Ricas, superintendente da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente, classifica a situação de “absurda”. “Se as barragens não são consideradas estáveis pelos auditores, como funcionam?”, questiona Maria Dalce , concordando com Sérgio. “Nenhum órgão ambiental praticamente tem plano de contingência e nem aponta detalhes das verdadeiras condições estruturais”, justifica.

Alessandra Magrini, do Programa de Planejamento Energético e Ambiental da Coppe/\UFRJ, especialista em análise de risco, argumenta que a “extensão dos danos, tempo de recuperação e custos são de difíceis estimativas. “Tudo seria especulação, até porque nunca tivemos uma catástrofe desta natureza no País.”

GOSTO DE QUEROSENE

Nesta quarta-feira, na maioria das cidades atingidas pela lama, moradores dependiam da ajuda de outras cidades até para matar a sede. Em Governador Valadares, a prefeitura normalizou o fornecimento, mas muita gente reclamava de gosto de querosene. As filas para pegar água em galões doados pela Samarco dobravam quarteirões. “Temos também coceira ao tomar banho”, queixou-se Raquel Gonçalves. A Secretaria de Estado do Ambiente (SEA/\INEA) não comentou o assunto, assim como o Ibama.

Reservatórios seguros no Rio

Responsável pela fiscalização da segurança nas barragens no Brasil, a Agência Nacional de Águas (ANA) inspecionou quatro reservatórios de água localizados no Estado Rio. Uma dessas barragens, a Schincariol Rio do Gato, em Cachoeiras de Macacu, foi incluída na Categoria de Risco (CRI) alto. A classificação foi dada pelos técnicos do Instituto Estadual do Ambiente (INEA). Para esta conclusão, leva-se em conta o volume de água, potencial de perdas de vidas humanas e impactos ambiental e socioeconômico.

A assessoria de imprensa do instituto informou que uma visita técnica foi feita no dia 13 ao reservatório e constatou que ela está em bom estado. “Não foi detectada evidência de risco de rompimento”, informa o relatório técnico. Mas não detalhou o que levou a Schincariol Rio do Gato a ser considerada de alto risco e nem se os problemas foram resolvidos. O relatório da ANA cita outras três barragens no estado. Uma de baixo risco (Saracuruna) e duas de médio risco (Juturnaíba e Engenho Passos). A Política Nacional de Segurança de Barragens foi implantada em 2010 e coleta dados sobre 15 mil barragens. Dessas, 3% tiveram fiscalização em 2013 ou 2014.

Fonte: O Dia